21.4.14

Divergente x Jogos Vorazes

 

Vou falar de um assunto bastante polêmico no mundo literário: Divergente e Jogos Vorazes. E NÃO, não vou dizer minha opinião de quem é melhor porque ambas as séries são ótimas. Esse post é pra trazer a paz entre as sagas. Tentarei explicar o melhor possível o que levou as autoras a criar esses mundos, as diferenças e pontos de cada um dos livros. Espero que ao final desse post todos estejam cientes de que as duas séries são maravilhosas, merecem ser lidas e não são parecidas de forma alguma.

Essa semana o filme Divergente foi estreado e vi muita gente reclamando que não assistiria por ser apenas mais um Jogos Vorazes da vida.  



Gente, pra quê isso de comparar séries? Ôh maniazinha chata, hein. Vamos já mudar isso! 

Todo mundo já viu as briguinhas do fandom de JV e Divergente ou já participou de uma. Eu, honestamente, tento ficar de fora e ser imparcial, mas quem me conhece sabe que sou apaixonada por Divergente mais do que JV, PORÉM não desmereço a série de Suzanne Collins de forma alguma, inclusive a adoro (Malditas que ganham meu coração, argh).

Atenção! O que comentei aqui é apenas o que tem nas sinopses e o resto é spoiler free!  

Então, vamos lá:
 



       Sinopse:               
Após o fim da América do Norte, uma nova nação chamada Panem surge. Formada por doze distritos, é comandada com mão de ferro pela Capital. Uma das formas com que demonstram seu poder sobre o resto do carente país é com Jogos Vorazes, uma competição anual transmitida ao vivo pela televisão, em que um garoto e uma garota de doze a dezoito anos de cada distrito são selecionados e obrigados a lutar até a morte! Para evitar que sua irmã seja a mais nova vítima do programa, Katniss se oferece para participar em seu lugar. Vinda do empobrecido distrito 12, ela sabe como sobreviver em um ambiente hostil. Peeta, um garoto que ajudou sua família no passado, também foi selecionado. Caso vença, terá fama e fortuna. Se perder, morre. Mas para ganhar a competição, será preciso muito mais do que habilidade. Até onde Katniss estará disposta a ir para ser vitoriosa nos Jogos Vorazes?
 



 


Sinopse:               
Numa Chicago futurista, a sociedade se divide em cinco facções – Abnegação, Amizade, Audácia, Franqueza e Erudição – e não pertencer a nenhuma facção é como ser invisível. Beatrice cresceu na Abnegação, mas o teste de aptidão por que passam todos os jovens aos 16 anos, numa grande cerimônia de iniciação que determina a que grupo querem se unir para passar o resto de suas vidas, revela que ela é, na verdade, uma divergente, não respondendo às simulações conforme o previsto. A jovem deve decidir entre ficar com sua família ou ser quem ela realmente é. E acaba fazendo uma escolha que surpreende a todos, inclusive a ela mesma, e que terá desdobramentos sobre sua vida, seu coração e até mesmo a sociedade supostamente ideal em que vive.




Apenas pela sinopse podemos ver várias diferenças entre as sagas. Na obra de Collins, o mundo pós-apocalíptico se passa depois da destruição da América do Norte, surgindo a nação de Panem, retirado da expressão “panis at circences”, latim de Pão e Circo. O Pão e Circo foi a política utilizada no Império Romano para evitar revoltas de desempregados, oferecendo a eles comida e diversão - se é que você acha divertido assistir a lutas de gladiadores no Coliseu. Mas Suzanne não parou por aí! Ela também se inspirou em um mito grego. (Essa gosta de História. É das minhas). O mito do Minotauro, em que todo o ano 7 homens e 7 mulheres eram mandados para o labirinto, em que a criatura vivia, para serem sacrificados. Esse mito era passado adiante, na Grécia Antiga, como um “lembrete” do que aconteceria se você desrespeitasse os deuses.


Já dá pra ver uma grande semelhança com JV, não é? E por último, Suzanne juntou tudo isso com o reality show. Em uma entrevista, ela afirmou que enquanto passava de canais, um programa de jovens competindo entre si, e outro sobre guerra, chamaram a sua atenção e a história da nossa querida Katniss surgiu! 

O livro é na primeira pessoa, na perspectiva da Katniss e desde o início vemos que a protagonista é forte, determinada e com um temperamento um pouco difícil. Sempre foi a figura da casa, provendo alimentos e cuidando de sua mãe e irmã. Quando sua irmã é chamada na Colheita, para participar dos Jogos Vorazes, ela não hesita em se voluntariar. E durante toda a saga entendemos que a vida árdua que teve foi o que a fez ser do jeito que é. Talvez seja um erro chamá-la de insensível e vocês queiram me apedrejar por isso, mas eu a enxergo assim e acho isso uma coisa boa, então sem pedras, por favor! Gosto da forma como ela tenta ser sempre racional e pensa em boas estratégias. E A-D-O-R-O quando ela perde as estribeiras.










Eu, particularmente, acho o começo do livro bastante parado e com mais ação do meio para o final e aí sim as coisas começam a ficar emocionantes, porém essa parte foi essencial para explicar a visão da Capital e a crítica que a autora quis mostrar. Não acho que ela tenha se focado demais no romance da história (apesar de ter sido um saco suportar Katniss e sua indecisão entre Peeta e Gale. Alô, Peeta sabe cozinhar, a escolha é óbvia), acredito que ela se aprofundou muito mais na questão política da sociedade e no comportamento dos indivíduos na mesma. Sem contar, é claro, a fome, manipulação e o próprio reality show. A diferença entre a visão de vida das pessoas da Capital e a dos Distritos pobres, como o da Katniss, é assustadora e me deixou bastante pensativa.
                                                                                                                                             

Jogos Vorazes foi lançado nos EUA em 2008 e em 2010 no Brasil e se tornou sucesso no mundo inteiro. Antes dos livros da Collins, mal se ouvia falar em "Distopias" – ao menos eu não ouvia. Se estiver errada, me corrijam. - Mas acredito que JV abriu portas para muitas outras séries com temas políticos e polêmicos. Divergente foi um dos beneficiados por essa porta. Agora me digam, será que por JV ter sido considerado “a primeira distopia de grande sucesso” significa que qualquer outra que surgiu depois é uma cópia? Acho esse pensamento completamente errado, mas é o que mais leio por aí. Pessoas falando que Divergente, Maze Runner, Legend e outros são cópias de Jogos Vorazes. Ok, amigos, se acalmem que o negócio não é assim.

Como expliquei lá em cima a tia Suzie se inspirou bastante em História, mas a Veronica Roth se inspirou em algo totalmente diferente: psicologia. A Maldita estava estudando “Terapia de Exposição” na faculdade, que é um método de tratamento de fobias que consiste em ir de encontro ao seu medo até superá-lo. E daí surgiu a ideia da nossa querida Audácia! Há milhões de referências psicológicas em Divergente, sendo retratadas nos soros, paisagens do medo, teste de aptidão e etc.

O mundo de Divergente se passa em uma cidade isolada, Chicago, e ninguém sabe o que existe depois da cerca (No início). A cidade foi dividida em 5 facções: Abnegação, Audácia, Franqueza, Amizade e Erudição. Cada uma preza por uma ideia diferente e elas não se misturam muito para não haver conflitos, e, obviamente, tem papeis diferentes na sociedade (Com exceção da Franqueza, que pra mim, não serve pra nada, desculpa). Mas Abnegação, por exemplo, por ser a facção altruísta é quem governa a cidade; A Audácia cuida da segurança; Amizade produz alimentos e pão da paz; E a Erudição é quem cuida dos medicamentos e tecnologia.
  
O livro também é na primeira pessoa e temos a perspectiva da Tris. Uma personagem recatada, mas não por escolha. Ela tem que seguir os dogmas de sua facção: Abnegação. Ou seja, ela precisa pensar nos outros antes de si mesma e estar sempre pronta para ajudá-los (o que, às vezes, é uma dificuldade para ela). Quando Tris passa pelo teste de aptidão para saber a qual facção pertence descobre que, na verdade, não pertence a nenhuma. E aí entra em conflito: continuar com a sua família ou seguir suas próprias ideias? Ao decorrer do livro acompanhamos o crescimento gigantesco da personagem, que de início ainda não sabe quem ela é ou que ideia seguir, e é incrível como cada escolha vai moldando a personalidade real da Tris e podemos entendê-la no final.



Veronica demorou 4 anos escrevendo Divergente e o mesmo foi lançado em 2011 nos EUA e 2012 no Brasil, fazendo um grande sucesso. Acho que Veronica se focou muito mais na alienação social das facções. Cada facção deve pensar de uma forma e seguir essa ideia para o resto da vida, mas os Divergentes, como tem aptidão para mais de uma facção, acabam não aceitando e querem questionar os valores que a sociedade quer impor para eles, o que acaba sendo perigoso nesse mundo.

O livro é cheio de ação do início ao fim. No momento em que Tris muda de facção, parece que não tem como parar de ler! É uma emoção atrás da outra e você simplesmente precisa saber o que vai acontecer a seguir. Veronica trabalhou muito bem as facções, apesar de que no primeiro só conhecemos parcialmente Abnegação e Erudição, mas entendemos bastante a Audácia. Nos outros livros ela se aprofunda na Amizade e Franqueza e podemos entender melhor as ideologias de cada facção.


Outra diferença entre os livros é que em Divergente não há triângulo amoroso. 




Mas apesar disso é um pouco – só um pouco – mais focada no romance dos personagens. A Tris não é tão insensível quanto a Katniss, sabe. 

Não quero entrar em detalhes sobre o final da trilogia, mas achei bem realista e diferente do que estamos acostumados a ver. Adorei a jogada da Veronica, foi arriscado, mas valeu a pena e mostrou que ela é única e isso só fez com que se diferenciasse ainda mais da série da Suzanne.  

Pois é, gente, expliquei as inspirações e ideias que cada autora explorou e acho que depois disso vocês entenderam que as sagas NÃO SÃO NADA PARECIDAS. As histórias são completamente diferentes, assim como os mundos. Então vamos parar de tentar escolher apenas uma e desmerecer a outra. E vamos conhecer um pouco antes sair por aí falando mal, né. Convenhamos que ambas tiveram ideias muito interessantes para criação dessas histórias, cada uma é única ao seu modo e merecem respeito. Por sinal, conheci Divergente – que é um dos meus livros favoritos – através de fãs de Jogos Vorazes que me deram a dica. 
 


Então é isso, gente! Tributos e Iniciandos vamos todos dar as mãos e comer Pão da Paz feito especialmente pelo Peeta. ;)